Auditoria de Comunicação
Auditoria de Imagem
Ativos intangíveis
Comunicação Estratégica
Governança Corporativa
Identidade Corporativa
Imagem Corporativa
Reputação
Sustentabilidade
Governança Corporativa


::
Comunicação Interna e Governança Corporativa

Wilson da Costa Bueno*

     A Governança Corporativa, há mais de uma década, freqüenta com desenvoltura o discurso empresarial , associada, quase sempre, à idéia de transparência, de responsabilidade na gestão dos negócios e de outros atributos positivos. Mas, como costuma acontecer, a história nem sempre está muito bem contada e, por isso, é preciso esclarecer alguns mitos que acompanham esta teoria e esta prática em nosso País.
      Em primeiro lugar, a Governança Corporativa tem sido percebida, pela maioria das organizações (e não só no Brasil!), como uma prática e uma postura que se afinam com uma perspectiva exclusivamente financeira e ela tem a ver (e quase sempre não extrapola esse público e esse universo de interesses) com a relação com os investidores.
      Qualquer leitura que se faça além desse nível significa uma generalização equivocada e perigosa, particularmente para nós, comunicadores, preocupados com a qualidade das relações com os diferentes públicos e, no caso específico desta coluna, com os públicos internos.
      Pois é isso mesmo. Muitas organizações que exibem orgulhosas as suas boas práticas de governança corporativa (e há muita hipocrisia e manipulação nesse discurso) continuam tratando os seus públicos internos com absoluto desrespeito, relegando a segundo plano os seus parceiros essenciais. Proclamam transparência, relações saudáveis e democráticas lá fora e continuam afrontando a diversidade cultural, sufocando a divergência de idéias e opiniões no ambiente interno. Exibem prêmios obtidos junto aos investidores (a maioria interessada apenas no retorno de seus investimentos e pouco preocupada, infelizmente, com a maneira pela qual ele foi obtido), festejam seus lucros formidáveis mas, ao mesmo tempo, demitem sem pestanejar os seus colaboradores (termo detestável, mas bem ao gosto da hipocrisia empresarial) e lhes engessam os salários.
      A Governança Corporativa precisa, urgentemente, ser estendida à Comunicação Interna, embora, para isso, deva merecer alguns reparos e alguns refinamentos. Os públicos internos, pra começar, não deveriam ser pensados como clientes (e cá estamos de novo cismados com o chamado endomarketing, uma proposta neoliberal para reduzir egoisticamente os funcionários a “parceiros mercadológicos”!) e muito menos como pernas e braços que executam trabalhos, geram receitas e pronto. Muito pelo contrário: a Comunicação Interna que se postula deve privilegiar o diálogo, a gestão de conhecimentos, a partilha de saberes e experiências e sobretudo o compromisso com o desenvolvimento pessoal e profissional.
      Muitas empresas que integram o Novo Mercado são amadoras em termos de Comunicação Corporativa e, por extensão, na Comunicação Interna, e reduzem a interação com os públicos internos a uma mera instância burocrático-administrativa, aquela velha toada de “chefia e controle de pessoal”, caracterizada por relações não democráticas, não participativas (aliás, participação é outro termo desgastado pelo mal uso no discurso empresarial), onde predomina a comunicação descendente (da direção para baixo, sem questionamentos). Basta acompanhar os seus jornais internos (parece que ficam menos ruins quando são chamados de “house organs”) para perceber que não têm espaço para o debate, são insossos, insípidos e inodoros, um mero oba-oba fora de época. Basta navegar pelas suas intranets para descobrir que enxergam a comunicação interna como um amontoado de comunicados sem interesse, um mural eletrônico burocrático (há murais criativos, é lógico) que não estimula, não seduz, não é um convite para a leitura.
      A Comunicação Interna, que se pretende incorporada a uma gestão em que vigora a autêntica governança corporativa (diferente dessa que está aí e que nada vê além do “management”), precisa estar respaldada no humanismo, no conhecimento do outro e no respeito às suas demandas e expectativas. Não pode estar condicionada a uma proposta que só tem olhos para os lucros, para o aumento da receita, para os borburinhos vertiginosos das Bolsas de Valores, porque, desta forma, continuará, como parece ser a tônica, a enxergar os funcionários como itens de despesas. Na verdade, sob esta perspectiva (que ainda prevalece , apesar do discurso vazio da comunicação estratégica), a própria comunicação (e principalmente a comunicação interna) continua também sendo vista como despesa e portanto sempre “encarada como um estorvo no canto da sala”.
      A Governança Corporativa aplicada à Comunicação Interna tem de assumir um novo paradigma, beber em outra fonte. Certamente, se isso fosse feito, as empresas se dariam conta de que existe uma relação estreita (e valiosa, lucrativa) entre a democracia interna e o crescimento dos negócios. Não é possível falar em governança quando se tem um ambiente interno deteriorado, gestão autoritária, ausência de espaço para troca de informações, controle e censura a todo vapor.
      As empresas precisam enxergar além do “Novo Mercado” e abrir os olhos para uma Nova Sociedade que se avizinha no horizonte. Uma sociedade que não estigmatiza o lucro, mas que deseja vê-lo compartilhado com todos aqueles que participam do seu processo de obtenção. Uma sociedade que deseja, fundamentalmente, saber a que custo social ele foi obtido e que cobrará juros, atuais e futuros, das empresas que dão as costas à sociedade e às minorias.
      A Comunicação Interna na genuína Governança Corporativa deverá especialmente agregar valor às relações humanas, valorizar o entendimento e a diversidade, mobilizar para a ação comunitária, resgatar a solidariedade. Uma comunicação interna, que diferentemente do modelo atual de Governança Corporativa, não sobrepõe os interesses de uns poucos aos dos interesses da maioria. A Comunicação Interna não deve ser pensada como um reduto para a especulação, para a competição sem escrúpulos, mas como um espaço para a cidadania. A excelente governança para a comunicação interna parte do pressuposto de que só vale a vitória, se todos saírem ganhando.
      Cuidado com o andor que o santo é de barro. Antes de aderirmos, sem perspectiva crítica, ao conceito de Governança Corporativa, vamos submetê-lo a este crivo. Quando importamos expressões, engolimos também conceitos e posturas. É bom abrirmos bem os olhos. O discurso empresarial, muitas vezes hipócrita e cínico, traz inúmeras armadilhas. O comunicador comprometido com os novos tempos deve manter a vigília.

--------------------------------------------------------------------------------

* Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.

 
 
Home Voltar para artigos